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Processo n.º 389/07                            
 
 3ª Secção
 Relatora: Conselheira Ana Guerra Martins
 
 
 
  
 Acordam, na 3ª Secção, do Tribunal Constitucional
 
  
 
  
 I – RELATÓRIO
 
  
 
  
 
 1. A recorrente – A. – interpôs recurso principal de sentença condenatória 
 proferida pelo 3º Juízo Criminal de Lisboa, no âmbito do Proc. n.º 
 
 2694/00.8PULSB, para o Tribunal da Relação de Lisboa, tendo o mesmo sido 
 rejeitado por Acórdão proferido, em 13 de Setembro de 2006:
 
  
 
 “recorrente A. apenas coloca questões quanto à decisão de facto sem cumprir, 
 minimamente, os requisitos legais – do artº 412º, nº 3 do CPP (…)” (fls. 848).
 
  
 Após notificação do referido Acórdão, a recorrente veio arguir a nulidade do 
 mesmo, em 26 de Setembro de 2006, invocando uma alegada omissão de pronúncia 
 sobre o objecto de um recurso retido, anteriormente interposto e relativo a 
 decisão instrutória (fls. 860 a 862).
 
  
 O Tribunal da Relação de Lisboa, em Acórdão proferido, em 22 de Novembro de 
 
 2006, indeferiu o pedido de declaração de nulidade do primeiro Acórdão, 
 considerando que:
 
  
 
 “Por outro lado, no seu recurso da decisão final – cfr. motivação de fls. 
 
 581/586 – a recorrente A. em lado algum se preocupa com o recurso intercalar 
 acima referido e que agora constitui fundamento de pretensa nulidade.
 Verifica-se pois total incumprimento do disposto no artº 412.º, n.º 5 do CPP, 
 pois a recorrente absteve-se de especificar, quer no texto da motivação quer nas 
 conclusões, se mantinha ou não interesse no conhecimento daquele recurso retido.
 Imperiosa é assim a conclusão de que dele ela desistiu.” (fls. 869).
 
  
 
 2. Mediante requerimento, de 05 de Dezembro de 2006, a recorrente suscita a 
 questão da inconstitucionalidade da interpretação dada pelo Acórdão, de 22 de 
 Novembro de 2006, à norma constante do n.º 5 do artigo 412º do CPP, requerendo 
 que o Tribunal da Relação de Lisboa declare “as nulidades arguidas” (sic, fls. 
 
 879).
 
  
 Em 31 de Janeiro de 2007, o Tribunal da Relação de Lisboa profere novo Acórdão, 
 refutando a alegada inconstitucionalidade e afirmando, reportando-se à 
 possibilidade de convite ao aperfeiçoamento, por aplicação subsidiária do n.º 4 
 do artigo 690º do CPC, que: 
 
  
 
 “A aplicabilidade da norma invocada só teria razão de ser se existisse caso 
 omisso no processo penal, nos termos do artº 4º do CPP.
 Mas tal não sucede.
 Na verdade, existe a disposição do artº 412º, n.º 5 do CPP, que regula de forma 
 expressa e equilibrada o caso dos recursos retidos.
 Melhor que ninguém os conhecem os próprios interessados, razão pela qual a 
 imposição que essa norma lhes faz de especificar aqueles em que ainda mantém 
 
 (sic) interesse não é desproporcionada, respeita os respectivos direitos e 
 interesses e, por último, dá conteúdo efectivo ao princípio da economia 
 processual.” (fls. 898).
 
  
 
 3. Notificada, em 05 de Fevereiro de 2007 (fls. 901), e inconformada com esta 
 decisão, a ora recorrente interpôs recurso para este Tribunal, em 15 de 
 Fevereiro de 2007 (fls. 904 a 906), tendo o recurso sido admitido pelo tribunal 
 
 “a quo” (fls. 908) e remetido para este Tribunal, em 16 de Março de 2007.
 
  
 Em 07 de Maio de 2007, a Relatora ordenou a notificação da recorrente, ao abrigo 
 do n.º 6 do artigo 75º-A da LTC, para que viesse indicar, querendo, “qual a peça 
 processual em que suscitou a questão da inconstitucionalidade da aludida 
 interpretação do n.º 5 do artigo 412º do CPP, conforme imposto pelo n.º 2 do 
 artigo 75º-A da Lei do Tribunal Constitucional” (fls. 913).
 
  
 Após resposta ao convite formulado, mediante telefax recebido neste Tribunal, em 
 
 21 de Maio de 2007 (fls. 918), a Relatora determinou a notificação da recorrente 
 para produzir alegações (fls. 920-verso), que foram entregues, em 05 de Julho de 
 
 2007 (fls. 922 a 937).
 
  
 Inscrito o processo em tabela, suscitaram-se dúvidas quanto ao conhecimento do 
 objecto do recurso, com fundamento na não suscitação da questão de 
 inconstitucionalidade no momento adequado e na não aplicação na decisão judicial 
 recorrida da norma cuja inconstitucionalidade se invoca, pelo que a recorrente 
 foi notificada para se pronunciar, querendo, ao abrigo do artigo 704º, nº 1, do 
 CPC, aplicável ex vi artigo 69º da LTC (cfr. fls. 961).
 
  
 Decorrido o prazo, a recorrente não respondeu, pelo que cumpre apreciar e 
 decidir.
 
  
 
  
 II – FUNDAMENTAÇÃO
 
  
 
  
 
 4. Apesar de o n.º 1 do artigo 76º da LTC conferir ao tribunal recorrido – in 
 casu, o Tribunal da Relação de Lisboa – o poder de apreciar a admissão de 
 recurso, essa decisão não vincula o Tribunal Constitucional, conforme resulta do 
 n.º 3 do mesmo preceito legal, pelo que, antes de mais, cumpre apreciar se estão 
 preenchidos todos os pressupostos de admissibilidade do recurso previstos nos 
 artigos 75º-A e 76º, nº 2, da LTC.  
 
  
 
       Os recursos de inconstitucionalidade previstos no artigo 70º, nº 1, alínea 
 b), LTC, como é o caso dos autos, só podem ser interpostos, nos termos do nº 2 
 do artigo 72º da LTC, pela parte que haja suscitado a questão de 
 inconstitucionalidade de modo processualmente adequado perante o tribunal que 
 proferiu a decisão recorrida, em termos de este estar obrigado a dela conhecer. 
 
  
 Com efeito, o Tribunal Constitucional pronuncia-se em via de recurso, isto é, 
 para reapreciação ou reexame de uma decisão sobre a questão de 
 constitucionalidade tomada pelo tribunal recorrido, pelo que a questão há-de 
 ter-lhe sido posta, em termos de este a dever conhecer (neste sentido, ver, por 
 exemplo, Acórdão nº 548/2003, disponível em www.tribunalconstitucional.pt). 
 
  
 
       No caso em apreço, a recorrente não suscitou a questão de 
 inconstitucionalidade de modo processualmente adequado.
 
  
 A recorrente ao arguir a nulidade do Acórdão do Tribunal da Relação, de 13 de 
 Setembro de 2006, com fundamento numa alegada omissão de pronúncia sobre o 
 objecto de um recurso subordinado, anteriormente interposto e relativo a decisão 
 instrutória, não tendo especificado nas conclusões que sobre ele mantinha 
 interesse, como lhe impunha o artigo 412º, nº 5, do CPP, deveria ter invocado 
 desde logo a inconstitucionalidade deste preceito, obrigando, assim o tribunal 
 recorrido a conhecer dessa inconstitucionalidade. 
 
  
 Não o tendo feito – decisão que só a ela pode ser imputável, uma vez que 
 devidamente representada por mandatário judicial – não pode mais tarde vir 
 invocar essa inconstitucionalidade.
 
  
 Acresce que a norma cuja inconstitucionalidade é invocada no ponto 2 do 
 requerimento de recurso para este Tribunal – o artigo 690º, nº 4, CPC – foi, 
 pela primeira vez, mencionada na arguição de nulidade do Acórdão de 22 de 
 Novembro de 2006, que, por sua vez, não aplica esta norma.  
 
  
 A recorrente suscita uma questão de inconstitucionalidade de uma norma que não 
 foi aplicada pela decisão de que está a arguir nulidade. Na verdade, o artigo 
 
 690º, nº 4, CPC só vai ser mencionado no Acórdão da Relação de 31 de Janeiro de 
 
 2007.
 
  
 Em conclusão, este Tribunal não pode conhecer do objecto deste recurso.
 
  
 
  
 III. DECISÃO
 
  
 Nestes termos, ao abrigo do disposto nos artigos 79º-B e 79º-C da Lei n.º 28/82, 
 de 15 de Novembro, na redacção que lhe foi dada pela Lei n.º 13-A/98, de 26 de 
 Fevereiro, e pelos fundamentos expostos, decide-se não conhecer do objecto do 
 recurso.  
 
  
 Custas devidas pela recorrente, fixando-se a taxa de justiça em 12 UC´s, nos 
 termos do artigo 6º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 303/98, de 07 de Outubro.
 Lisboa, 19 de Dezembro de 2007
 Ana Maria Guerra Martins
 Maria Lúcia Amaral
 Vítor Gomes
 Carlos Fernandes Cadilha
 Gil Galvão