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Processo n.º 178/08
 
 3ª Secção
 Relator: Conselheiro Vítor Gomes
 
 
 
             Acordam, em conferência, na 3ª Secção do Tribunal Constitucional
 
 
 
             1. A., arguido no processo de que a presente reclamação é 
 dependência, reclama do despacho de 10 de Janeiro de 2008 que não admitiu o 
 recurso que interpôs para o Tribunal Constitucional, ao abrigo da alínea b) do 
 n.º 1 do artigo 70.º da LTC, do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 25 de 
 Outubro de 2007 (integrado e esclarecido pelo acórdão de 27 de Novembro de 2007) 
 que decidiu rejeitar, por inadmissível, o acórdão interposto pelo ora reclamante 
 do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa quanto aos crimes e penas parcelares 
 que lhe foram impostos.
 
  
 
             Em síntese, alega que, no recurso para o Supremo Tribunal de 
 Justiça, suscitou a questão da inconstitucionalidade da alínea e) do n.º 1 do 
 artigo 400.º do CPP (na redacção anterior à Lei n.º 48/2007, de 29 de Agosto) e 
 que foi essa mesma norma que identificou no requerimento de interposição como 
 objecto do recurso para o Tribunal Constitucional, nunca tendo chamado à colação 
 a norma da alínea f) do mesmo n.º 1 do artigo 400.º, como o despacho reclamado 
 erroneamente supõe.
 
  
 
             2. O Exmo. Procurador-Geral Adjunto pronunciou-se nos termos 
 seguintes:
 
  
 
  
 
 “A presente reclamação é manifestamente improcedente.
 Note-se liminarmente que o ora reclamante não cumpriu o ónus de suscitar, em 
 termos processualmente adequados, - na motivação do recurso que dirigiu ao 
 Supremo – a questão de constitucionalidade da específica dimensão normativa da 
 alínea e) do n.º 1 do art.º 400.º do CPP, indicando-a de forma precisa e clara.
 Por outro lado, é evidente que o STJ não aplicou a dimensão normativa indicada 
 no requerimento de interposição do recurso de constitucionalidade – já que, 
 perante a situação de concurso que se verificara quanto ao arguido, considerou 
 admissível o acesso ao Supremo para controverter a medida da pena correspondente 
 ao concurso criminoso (punido com a pena única de 6 anos de prisão); mas 
 denegou-o naturalmente para discutir as penas parcelares definitivamente 
 aplicadas pela Relação aos crimes concorrentes, cada um deles punível com pena 
 de prisão inferior a 5 anos.”       
 
  
 
  
 
             3. Para decisão da reclamação relevam as ocorrências processuais 
 seguintes:
 
  
 
             a) O reclamante foi condenado em 1.ª instância, em cúmulo jurídico 
 das penas aplicadas por vários crimes, na pena única de 9 anos de prisão;
 
             b) O Tribunal da Relação de Lisboa reduziu a pena única para 6 anos 
 de prisão, mediante a requalificação parcial dos factos com redução do número de 
 crimes.
 
             c) O ora reclamante interpôs recurso para o Supremo Tribunal de 
 Justiça, sustentado além do mais que:
 
 “(…)
 Acresce, finalmente, que a interpretação da referida norma – art.º 400.º n.º 1 
 al. e) do CPP - no sentido que ora se defende é a única que, não brigando com a 
 sua letra e espírito, respeita as normas e princípios constitucionais que regem 
 a matéria em apreço. 
 Com efeito, dispõe o art.º 9.º al. b) da CRP que constitui tarefa fundamental do 
 Estado “garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelos 
 princípios do Estado de direito democrático”. 
 Ora, no se vê como possa ser compatível com tal obrigação a hipótese de se 
 entender que o legislador ordinário pretendeu vedar o recurso ao STJ de cidadãos 
 condenados ao cumprimento de elevadas penas de prisão, em casos de concurso de 
 infracções por crimes puníveis com penas iguais ou inferiores a 5 anos de 
 cativeiro. 
 Tanto mais que, segundo prevê o art.º 18.º n.º 2 da CRP, “a lei só pode 
 restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente previstos 
 na Constituição, devendo as restrições limitar-se ao necessário para 
 salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos” 
 
 (sublinhado nosso). 
 Acresce, ainda, que todos os cidadãos têm direito a um processo equitativo, como 
 resulta do disposto no artº 20.º n.º 4 da CRP. 
 Sendo que a justeza e equilíbrio dos processos mede-se também pela ponderação 
 dos valores em julgamento. 
 Assim, não respeitará tal ponderação a possibilidade de alguém sancionado com 
 pesada pena de prisão ser privado do recurso para o STJ e, em contraposição, 
 certas causas de natureza meramente civil e de valor mediano poderem ser 
 julgadas por aquela altíssima instância, como decorre, por exemplo, do disposto 
 no art.º 725.º n.º 1 do CPC. 
 Entende, por isso, o recorrente que, no caso em apreço, o art.º 400º n.º 1 al. 
 e) do CPP não o impede de interpor o presente recurso, sendo que qualquer 
 interpretação em sentido oposto, nomeadamente aquela que se tem vindo a 
 analisar, não só violaria as normas constitucionais acabadas de referir – artº 9 
 al. b), 18.º n.º 2 e 20.º n.º 4 - como afectaria as garantias de defesa do 
 arguido, mormente o direito ao recurso, consagradas no artº 32.º n.º 1 da 
 Constituição.” 
 
  
 
             d) Por acórdão de 25 de Outubro de 2007, o Supremo Tribunal de 
 Justiça julgou o recurso inadmissível quanto aos crimes e penas parcelares e 
 manifestamente improcedente quanto à pena correspondente ao concurso de crimes, 
 consignando o seguinte:
 
  
 
 “4.1. Nos termos do art. 400.1.f do CPP, na redacção recentemente introduzida 
 pela Lei 48/2007 de 29AG0, entrada em vigor no dia 15SET07, o acórdão da Relação 
 nem sequer seria recorrível, por terem passado a não admitir recurso «os 
 acórdãos condenatórios proferidos em recurso, pelas relações, que confirmem 
 
 [ainda que in meilius] decisão de 1.ª instância e apliquem [como no caso] pena 
 de prisão não superior a 8 anos». 
 
 4.2. E, mesmo perante a lei processual penal anterior (cfr. art. 400.1.e) e f) 
 do CPP, na redacção da lei 59/98 de 25AG0), o recurso – não sendo admissível 
 relativamente às penas parcelares (porque correspondentes a crimes puníveis com 
 pena de prisão não superior a cinco anos de prisão – apenas o seria em relação 
 ao respectivo concurso criminoso (pois que punível com pena de prisão – de 3,5 a 
 
 11 anos de prisão – de máximo superior a oito anos). 
 
 4.3. Ora, nos termos do art. 5.º do CPP, a lei processual penal, se bem que «de 
 aplicação imediata» (n. 1), «não se aplica aos processos iniciados anteriormente 
 
 à sua vigência quando da sua aplicação imediata possa resultar agravamento 
 sensível e ainda evitável da situação processual do arguido, nomeadamente uma 
 limitação do seu direito de defesa» (n. 2, alínea a). 
 
 4.4. Será, por isso, de admitir o recurso, apenas, quanto à medida da pena 
 correspondente ao concurso criminoso (mas já não às penas parcelares 
 
 [definitivamente] aplicadas aos crimes concorrentes. cada um deles punível com 
 prisão até 2, 4 ou 5 anos). 
 
 4.5. No quadro da versão de 1998 do CPP, o Supremo não vinha aceitando – senão 
 relativamente à pena correspondente ao concurso criminoso – a posição em que o 
 ora recorrente se coloca de «o art. 400.1.e CPP [de então] não impedir a 
 interposição de recurso para o STJ, nos casos aí previstos se ao arguido for 
 aplicada pena [única] de prisão superior a 5 anos de prisão». 
 
 4.6. Com efeito, «não [era] admissível recurso de acórdãos proferidos, em 
 recurso, pelas Relações, em processo por crime a que [fosse] aplicável pena de 
 multa ou pena de prisão não superior a cinco anos, mesmo em caso de concurso de 
 infracções (…)» (art. 400, n. 1, al. e), do CPP/98). Ou seja, «mesmo em caso de 
 concurso de infracções», não era admissível recurso de acórdãos proferidos, em 
 recurso, pelas Relações, em processo por crime a que fosse aplicável pena de 
 multa ou pena de prisão não superior a cinco anos. No caso, todos os «processos 
 conexos» (art.s 24.º e 25.º do CPP) versam crimes puníveis com pena de prisão 
 não superior a 5 anos de prisão e daí, pois, que cada um deles valha como 
 
 «processo por crime a que é aplicável pena de prisão não superior a cinco anos». 
 Se julgados isoladamente, não haveria dúvidas, perante o CPP/98, de que não 
 seria admissível recurso do(s) acórdão(s) proferido(s), em recurso, pela 
 Relação. Ora, não havia razões substanciais – ou sequer, processuais – para que 
 se adoptasse um regime diverso de recorribilidade em função da circunstância de, 
 por razões de «conexão» («de processos» – art. 25.º), terem sido conhecidos 
 simultaneamente os crimes «concorrentes» (dos demais «processos conexos»). 
 Acresce que, para efeitos de recurso, «é autónoma a parte da decisão que se 
 referir, em caso de concurso de crimes, a cada um dos crimes» (art. 403.º n.º 2, 
 al. b), do CPP). Por isso, o art. 400.º, n.º 1, al. e), do CPP/98 advertia para 
 que tal regime de recorribilidade (no tocante «a cada um dos crimes», ou, mais 
 propriamente, ao «processo conexo» respeitante a cada «crime») se havia de 
 manter «mesmo em caso de concurso de infracções» julgadas «em processos conexos» 
 
 (ou em «um único processo organizado para todos os crimes determinantes de uma 
 conexão» - art.º 29.º n.º 1, do CPP). Aliás, se o art.º 400.º, n.º 1, nas suas 
 al.s e) e f), pretendesse, na sua versão de 19989, levar em conta a pena 
 correspondente ao «concurso de crimes», teria aludido a «processos por crime ou 
 concurso de crimes»  (e não a «processos por crime, mesmo em caso de concurso»). 
 
 É certo que a «expressão “mesmo em caso de concurso de infracções” suscitava 
 algumas dificuldades de interpretação». Porém, e uma vez «a pena aplicável ao 
 concurso tem como limite mínimo a mais elevada das penas concretamente aplicadas 
 e como limite máximo a soma das penas aplicadas aos diversos crimes em concurso 
 
 (art. 77.º do CP)», «não parece que o legislador [tivesse ali] recorrido a um 
 critério assente na pena efectivamente aplicado no concurso», tanto mais que «em 
 abstracto é impossível determinar qual a pena aplicável aos crimes em concurso 
 antes da determinação da pena aplicada a qualquer deles». Donde que «a expressão 
 
 “mesmo em caso de concurso de infracções” [significasse ali] que, não importando 
 a pena aplicada no concurso, se tomar[ia] em conta a pena abstracta aplicável a 
 cada um dos crimes».”
 
  
 
             e) O reclamante apresentou um requerimento em que arguiu a nulidade 
 
 (e, subsidiariamente, pediu a aclaração) deste acórdão, acusando-o de não se ter 
 pronunciado sobre a questão de inconstitucionalidade da alínea e) do n.º 1 do 
 artigo 400.º do CPP que sustentou ter alegado.
 
             f) Por acórdão de 27 de Novembro de 2007, o Supremo Tribunal de 
 Justiça apreciou esse requerimento e decidiu nos termos seguintes:
 
  
 
 “4. CONCLUSÕES 
 
 4.1. Não se omitiu pronúncia sobre a questão – aliás, não suscitada em termos 
 adequados – da (in)constitucionalidade da interpretação que, a respeito do art. 
 
 400.1.e do CPP (na redacção anterior à Lei 48/2007), o Supremo vinha fazendo e o 
 acórdão ora reclamado reiterou; 
 
 4.2. Mas, a considerar-se a decisão reclamada incursa em tal vício, este acórdão 
 complementar, suprindo-a, sanará a correspondente nulidade. 
 
 5. DECISÃO 
 Tudo visto, o Supremo Tribunal de Justiça, reunido em conferência para apreciar 
 a pretensa omissão de pronúncia suscitada, na sua reclamação de l3NovO7, pelo 
 arguido A., admite não ter enfrentado a correspondente questão de 
 inconstitucionalidade (no entendimento, que persiste mas em que não insiste, de 
 não estar obrigado a dela conhecer), mas admitindo a hipótese de dela dever ter 
 conhecido, delibera, para suprir o eventual vício, conhecer agora dela, 
 justificando o decidido, à luz da Constituição, quanto à questão da 
 
 (irr)ecorribilidade do acórdão recorrido, pelas mesmas razões que o tribunal 
 Constitucional não tem julgado inconstitucional «a norma do art.º 400.º, n.º 1, 
 
 [alínea e)], do Código de Processo Penal, interpretada no sentido de que é 
 inadmissível recurso para o Supremo Tribunal de Justiça de acórdão condenatório 
 proferido, em recurso, pelas Relações, que confirmem (mesmo que parcialmente, 
 desde que in mellius) decisão da 1ª instância, quando o limite máximo da moldura 
 penal dos crimes, individualmente considerados, por que o arguido foi condenado 
 não ultrapasse 8 anos de prisão».”
 
  
 
             g) Em 18 de Dezembro de 2007, o reclamante interpôs recurso para o 
 Tribunal Constitucional, mediante requerimento do seguinte teor: 
 
  
 
 “Em cumprimento do disposto no art.º 75-A da Lei n.º 28/82, de 15 de Novembro 
 
 (Lei do TC), desde já, se indica que: 
 
 • o presente recurso é interposto ao abrigo da al b) do n.º 1 do art.º 70.° da 
 Lei do TC; 
 
 • a norma cuja inconstitucionalidade se pretende que o Tribunal aprecie, na 
 interpretação que lhe foi dada pela instância recorrida, é a constante do artº 
 
 400.º n°1 al. e) do CPP  na sua redacção anterior à actualmente vigente. 
 
 - a interpretação normativa, que se pretende questionar, feita pelo STJ do 
 referido preceito - que, de resto, refere ser coincidente com a plasmada no 
 acórdão 2/06, de 3 de Janeiro, do TC - foi a de que é inadmissível recurso para 
 o STJ de acórdão condenatório proferido, em recurso, pelas Relações, que 
 confirmem (mesmo que parcialmente, desde que in melius) decisão da primeira 
 instância, quando o limite máximo da moldura penal dos crimes, individualmente 
 considerados, por que o arguido foi condenado não ultrapasse oito anos de 
 prisão; 
 
 • as normas ou princípios constitucionais que o recorrente considera violados 
 pela referida interpretação são as constantes dos art. 9.º al. b), 18.º n.º 2, 
 
 20.º n.º 4 e 32.º n° 1, todos da CRP, pelas razões oportunamente expostas no 
 requerimento onde tal questão foi suscitada, e que aqui se dão, por mera questão 
 de economia processual, por integralmente reproduzidas: 
 
 • o recorrente suscitou a aludida questão da inconstitucionalidade no 
 requerimento de interposição do recurso do acórdão do TRL para o STJ, ou seja, 
 no preciso momento em que ao recorrente se colocou a questão de pretender reagir 
 processualmente àquela decisão desfavorável. 
 
  
 
             h) Este recurso não foi admitido, por despacho de 10 de Janeiro de 
 
 2008, do seguinte teor:
 
  
 
 “1. Nos termos do art. 400.1 f do CPP, na redacção recentemente introduzida pela 
 Lei n.º 48/2007 de 29 Ago, entrada em vigor no dia 15 Set.07, o acórdão da 
 Relação nem sequer seria recorrível, por terem passado a não admitir recurso «os 
 acórdãos condenatórios m proferidos em recurso, pelas relações, que confirmem 
 
 [ainda que in mellius] decisão de 1ª instância e apliquem [como no caso] pena de 
 prisão não superior a 8 anos».
 
 2. Mas, mesmo perante a lei processual penal anterior (cfr. art. 400.1.e) e f) 
 do CPP, na redacção da lei 59/98 de 25 Ago), o recurso – não sendo admissível 
 relativamente às penas parcelares (porque correspondentes a crimes puníveis com 
 pena de prisão não superior a cinco anos de prisão] – apenas o seria (como foi) 
 em relação ao respectivo concurso criminoso (pois que punível com pena de prisão 
 
 – de 3,5 a 11 anos de prisão – de máximo superior a 8 anso).
 
 3. Daí que o Supremo Tribunal e Justiça, reunido em conferência no dia 25 Out07 
 para apreciar a questão prévia suscitada no exame preliminar do relator, se 
 tenha decidido pela não inadmissão e rejeição do recurso (inadmissível quanto às 
 penas parcelares e manifestamente improcedente quanto à pena conjunta), oposto 
 pelo cidadão A. ao acórdão da Relação de Lisboa que, em 07Mai07, o condenara, 
 como autor ou co-autor de um crime de falsificação agravada, de um crime de 
 auxílio à imigração, de um crime de falsificação documental tentada, de um crime 
 de receptação e de um crime de detenção ilegal de arma, nas penas parcelares de 
 
 3,5 anos de prisão, de 2,5 anos de prisão, de 1,25 anos de prisão, de 3 anos de 
 prisão e de 0,75 anos de prisão e na pena conjunta de 6 (seis) anos de prisão.
 Alegara o condenado, no seu recurso para o Supremo, que «o art. 400.1 CPP não 
 impedia a interposição de recurso para o STJ, nos casos aí previstos se ao 
 arguido tivesse sido aplicada pena de prisão superior a 5 anos de prisão».
 O Supremo, porém, não impediu, no caso «a interposição de recurso», que, aliás, 
 admitiu (quanto ao concurso criminoso, única realidade a que, na decisão 
 recorrida, fora «aplicada pena de prisão superior a 5 anos de prisão»), e que, 
 só por manifesta improcedência, rejeitou.
 
 É certo, todavia, que o STJ considerou inadmissível o recurso quanto aos crimes 
 
 – abstractamente puníveis e concretamente punidos com pena de prisão inferior a 
 cinco anos de prisão – de «auxílio à imigração ilegal», “falsificação de 
 documentos na forma tentada» e «receptação».
 Acontece que o arguido/recorrente, conjecturando – porque era essa a 
 jurisprudência corrente no Supremo – que assim viesse a ser decidido, limitou-se 
 a alegar que a interpretação contrária «era a que melhor se coaduna[va] com a 
 letra e o espírito da norma , bem como os princípios fundamentais do nosso 
 sistema processual penal» e, ainda, que uma «interpretação que não impedisse a 
 interposição de recurso para o STJ» seria a única que se harmoniza[ria] com as 
 regras e princípios estabelecidos nos art.s 9.b, 18.2, 20.4 e 32.1 da 
 Constituição». Mas, para suscitar do próprio tribunal  ad quem a apreciação da 
 eventual (in)constitucionalidade da norma – tal como previa vir a ser 
 interpretada/aplicada – do art. 400.1.e) do CPP, teria que cumprir – e não 
 cumpriu – as exigências feitas pelo art. 412.2 do CPP, incluindo a de indicar, 
 além da norma (in)constitucional previsivelmente violada, o sentido 
 
 (in)constitucional em que, no entendimento do recorrente, o tribunal recorrido 
 poderia vir a interpretá-la e, bem assim, o exacto sentido em que ela, no seu 
 entendimento, devia ser interpretada».
 Não obstante, o arguido/recorrente interpôs, em 17Dez07, recurso para o Tribunal 
 Constitucional, «ao abrigo da al. b) do n.º 1 do art.º 70.º da LTC», sindicando 
 a norma do art. 400.1.e do COPP, na sua redacção anterior à actual vigente, 
 interpretada no sentido da inadmissibilidade de recurso para o STJ de acórdão 
 condenatório proferido, em recurso, pelas Relações, que confirmem (mesmo que 
 parcialmente, desde que in mellius) decisão da 1ª instância, «quando o limite da 
 moldura penal dos crimes individualmente considerados por que o arguido foi 
 condenado não ultrapasse 8 anos de prisão».
 No entanto, o Supremo não considerou inadmissível o recurso. Tanto que o 
 admitiu, se bem que circunscrito ao concurso criminoso e respectiva pena 
 conjunta.
 Mas, mesmo em relação aos crimes concorrentes e às respectivas penas parcelares, 
 o que esteve em causa –na inadmissão parcial do recurso – não foi a decisão 
 confirmatória da Relação num contexto (que seria o da alínea f) do nº 1 do art. 
 
 400º do CPP, da redacção anterior à actual) em que «o limite da moldura penal 
 dos crimes individualmente considerados por que o arguido tivesse sido condenado 
 não ultrapassasse 8 anos de prisão» mas, antes, a própria decisão da Relação 
 
 –qualquer que ela fosse – no âmbito da alínea e) do n.º1 daquele art. 400.° 
 
 («Não é admissível recurso de acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações, 
 em processo por crime a que seja aplicável pena de multa ou pena de prisão não 
 superior a cinco anos, mesmo em caso de concurso de infracções (...)»). 
 Assim sendo, e uma vez que a norma pretensamente submetida à sindicância do 
 Tribunal Constitucional foi uma (a do art. 400.1.e do CPP/98) e a interpretação 
 impugnada respeita a outra (a da alínea f) dos mesmos artigo e número), é 
 manifesta a sua falta de fundamento, o que, nos termos do art. 76.2 da LTC, 
 constitui motivo de indeferimento. 
 Vai, pois, indeferido o recurso constitucional de fls. 16737 e ss.. 
 
  
 
             i) O reclamante apresentou um pedido de esclarecimento deste 
 despacho, sobre o qual recaiu o despacho de 25 de Janeiro de 2008, do seguinte 
 teor:
 
  
 
 “O STJ considerou inadmissível o recurso quanto aos crimes – abstractamente 
 puníveis e concretamente punidos com pena de prisão inferior a cinco anos de 
 prisão – de «auxílio à imigração ilegal», «falsificação de documentos na forma 
 tentada» e «receptação»
 O Supremo, porém, não impediu, no caso, «a interposição de recurso», que, aliás, 
 admitiu (quanto ao concurso criminoso, única realidade a que, na decisão 
 recorrida, fora «aplicada pena de prisão superior a 5 anos de prisão»).
 Acontece que o arguido/recorrente, conjecturando – porque era essa a 
 jurisprudência corrente no Supremo – que assim viesse a ser decidido (quanto à 
 inadmissão parcial do recurso), limitou-se a alegar, no seu recurso para o STJ, 
 que a interpretação contrária «era a que melhor se coaduna[va] com a letra e o 
 espírito da norma, bem como os princípios fundamentais do nosso sistema 
 processual penal» e, ainda, que uma «interpretação que não impedisse a 
 interposição de recurso para o STJ», seria a «única que se harmoniza[ria]com as 
 regras e princípios estabelecidos nos art.s 9.b, 18.2, 20.4 e 32.1 da 
 Constituição».
 Note-se porém que, para suscitar do próprio tribunal ad quem a apreciação da 
 eventual (in)constitucionalidade da norma – tal como previa vir a ser 
 interpretada/aplicada – do art. 400.1.e) do CPP, teria que cumprir – e não 
 cumpriu – as exigências feitas pelo art. 412.2 do CPP, incluindo a de indicar, 
 além da norma (in)constitucional previsivelmente violada, o sentido 
 
 (in)constitucional em que, no entendimento do recorrente, o tribunal recorrido 
 poderia vir a interpretá-la e, bem assim, o exacto sentido em que ela, no seu 
 entendimento, devia ser interpretada».
 Não obstante, o Supremo conveio, em 27Nov07, em contextualizar 
 constitucionalmente a interpretação/aplicação que fizera da norma da alínea e) 
 do nº 1 do artº 400º do CPP/98, após o que o arguido/recorrente – aproveitando e 
 arrastando a situação de liberdade provisória em que se encontra desde 13Jul07 – 
 interpôs, em 17Dez07, recurso para o Tribunal Constitucional, «ao abrigo da al. 
 b) do nº 1 do art. 70º da LTC», sindicando a norma do art. 400.1.e do CPP, na 
 sua redacção anterior à actualmente vigente, interpretada no sentido da 
 inadmissibilidade de recurso para o STJ de acórdão condenatório proferido, em 
 recurso, pelas Relações, que confirmem (mesmo que parcialmente, desde que in 
 mellius) decisão da 1ª instância, «quando o limite da moldura penal dos crimes 
 individualmente considerados por que o arguido foi condenado não ultrapasse 8 
 anos de prisão».
 No entanto, O Supremo não considerou inadmissível o recurso. Tanto que o 
 admitiu, se bem que circunscrito ao concurso criminoso e respectiva pena 
 conjunta.
 Mas, mesmo em relação aos crimes concorrentes e às respectivas penas parcelares, 
 o que esteve em causa – na inadmissão parcial do recurso – não foi a decisão 
 confirmatória da Relação num contexto (que seria o da alínea f) do nº 1 do art. 
 
 400º do CPP, da redacção anterior à actual) em que «o limite da moldura penal 
 dos crimes individualmente 8 anos de prisão» mas, antes, a própria decisão da 
 Relação – qualquer que ela fosse – no âmbito da alínea e) do n.º 1 daquele art. 
 
 400º («Não é admissível recurso de acórdãos proferidos, em recurso, pelas 
 relações, em processo por crime a que seja aplicável pena de multa ou pena de 
 prisão não superior a cinco anos, mesmo em caso de concurso de infracções (…)»).
 Assim sendo, e uma vez que a norma pretensamente submetida à sindicância do 
 Tribunal Constitucional foi uma (a do art. 400.1. e do CPP/98) e a interpretação 
 impugnada respeita a outra (a da alínea f) dos mesmos artigo e número), o 
 relator – entendendo manifesta a sua falta de fundamento, o que, nos termos do 
 art. 76.2 da LTC, constituiria motivo de indeferimento – indeferiu, em 10Jan08, 
 o recurso constitucional de fls. 16737 e ss.
 Notificado no mesmo dia, o recorrente em 21Jan07 (2ª feira), pediu a aclaração 
 do despacho: «Se esse tribunal (…) fez Suas as razões que levaram o próprio 
 Tribunal Constitucional a não considerar inconstitucional o citado preceito 
 legal [art. 400.1.f. do CPP], não se compreende pior que motivo vem agora esse 
 STJ entender que a interpretação posta em causa pelo recorrente, no recurso por 
 si interposto, se refere à alínea f) do art. 400º nº 1 do CPP».
 A explicação é simples:
 a) O Supremo – para fundamentar, de harmonia com a Constituição, a interpretação 
 que fizera da norma da alínea e) do nº 1 do art. 400º do CPP (na versão anterior 
 
 à actual) – invocou as «mesmas razões» que haviam servido ao Tribunal 
 Constitucional para considerar conforme à Constituição «a norma do artigo 400, 
 nº 1, alínea f), do Código de Processo Penal, interpretada no sentido de que é 
 inadmissível recurso para o Supremo Tribunal de Justiça de acórdão condenatório 
 proferido, em recurso, pelas Relações, que confirmem (mesmo que parcialmente, 
 desde que in mellius) decisão da 1ª instância, quando o limite máximo da moldura 
 penal dos crimes, individualmente considerados, por que o arguido foi condenado 
 não ultrapasse 8 anos de prisão;
 b) No entanto, o recorrente, embora, no seu recurso constitucional, tenha 
 identificado «a norma cuja inconstitucionalidade se pretende que o Tribunal 
 
 [Constitucional] aprecie)» como a «constante do art. 400. 1.e do CPP», acabou 
 por indicar como «interpretação normativa feita pelo STJ» a de que «é 
 inadmissível recurso para o STJ de acórdão condenatório proferido, em recurso, 
 pela Relações, que confirmem (mesmo que (mesmo que parcialmente, desde que in 
 meilius) decisão da 1. a instância, quando o limite máximo da moldura penal dos 
 crimes, individualmente considerados, por que o arguido foi condenado não 
 ultrapasse 8 anos de prisão»; 
 c) Ora, esta interpretação dizia respeito não à alínea e) – a aplicada pelo 
 Supremo – mas à alínea f) do n.º 1 do art. 400.º do CPP (que o Supremo, aliás, 
 apenas invocara – no acórdão complementar de l7NovO7– na medida em que as razões 
 que justificavam a constitucionalidade de determinada interpretação do preceito 
 poderiam invocar-se para justificar a conformidade constitucional da que o 
 Supremo fizera da norma constante daquela outra alínea); 
 d) De qualquer modo, a norma aplicada pelo Supremo – extraída da alínea e) - 
 fora, antes, a de que «sem prejuízo da eventual admissibilidade do recurso 
 relativo ao correspondente concurso criminoso e à respectiva pena única, não é 
 admissível recurso, restrito às respectivas penas parcelares, de acórdãos 
 proferidos, em recurso, pelas relações, em processos, ainda que conexos, por 
 crimes a que seja aplicável pena de prisão não superior a cinco anos»; 
 e) Porém, não foi esta «interpretação «normativa» – longe disso – que o 
 recorrente – no seu recurso de 1 7DEzO7 para o Tribunal Constitucional – indicou 
 como «feita pelo STJ do referido preceito». 
 Foi isto, pois, o que se quis dizer quando, no despacho ora sob aclaração, se 
 afirmou que «a norma pretensamente submetida à sindicância do Tribunal 
 Constitucional foi uma (a do art. 400. 1.e do CPP/98) e a interpretação 
 impugnada respeita a outra (a da alínea f) dos mesmos artigo e número)». 
 
  
 
  
 
             4. Importa recordar os seguintes aspectos essenciais do regime 
 jurídico do recurso de fiscalização concreta de constitucionalidade, com 
 imediata pertinência para a apreciação da presente reclamação e constantemente 
 reafirmados na jurisprudência do Tribunal:
 
             Ao abrigo da alínea b) do n.º 1 do artigo 70.º da LTC, cabe recurso 
 para o Tribunal Constitucional de decisão dos restantes tribunais (esgotados que 
 sejam os recursos ordinários, aspecto que no caso presente se não coloca) com 
 vista à apreciação da conformidade com regras e princípios da Constituição de 
 norma (i) que tenha integrado a ratio decidendi da decisão recorrida (ii) e em 
 relação à qual o recorrente tenha suscitada a questão de constitucionalidade 
 perante o tribunal que proferiu a decisão recorrida, em termos de este estar 
 obrigado a dela conhecer (cfr. n.º 2 do artigo 72.º da LTC).
 
             Incumbe ao recorrente identificar, logo no requerimento de 
 interposição do recurso, a norma cuja inconstitucionalidade quer ver apreciada 
 
 (n.º 1 do artigo 75.º-A da LTC). Ónus este que exige a enunciação por parte do 
 recorrente, de modo claro e preciso, do específico sentido normativo com que o 
 preceito foi aplicado. 
 
             O recorrente que não tenha dado cumprimento aos requisitos impostos 
 pelo artigo 75.º-A da LTC tem o ónus de suprir tais deficiências na reclamação, 
 em ordem a permitir uma decisão definitiva sobre a admissibilidade do recurso 
 
 (n.º 4 do artigo 77.º da LTC).
 
  
 
             5. O despacho reclamado, embora também tenha discorrido sobre a não 
 suscitação adequada da questão de constitucionalidade, elegeu como razão 
 determinante para o indeferimento do requerimento de interposição de recurso o 
 facto de que “a norma pretensamente submetida à sindicância do Tribunal 
 Constitucional foi uma [a do artigo 430.º, alínea e) do CPP/98]) e a 
 interpretação impugnada respeita a outra [a da alínea f) dos mesmos artigo e 
 número)”. Pelo despacho de 25 de Janeiro de 2008 ficou esclarecido o que esta 
 afirmação, afinal, significa: a norma que o recorrente identifica como objecto 
 do recurso não corresponde ao sentido normativo da alínea e) do n.º 1 do artigo 
 
 400.º do CPP que o acórdão recorrido aplicou.
 
             Justifica-se, portanto, que na apreciação da reclamação se comece 
 por verificar se a norma cuja apreciação de constitucionalidade se pretende 
 coincide com aquela de que o acórdão recorrido fez aplicação, para considerar 
 não admissível recurso da decisão da Relação.
 
  
 
             6. Efectivamente, o Supremo Tribunal de Justiça considerou 
 admissível o recurso do acórdão da Relação quanto à medida da pena 
 correspondente ao concurso (fixada pela Relação em 6 anos de prisão, mas 
 abstractamente punível com pena superior a 8 anos de prisão), embora o tivesse 
 rejeitado por manifesta improcedência. Só não admitiu o recurso quanto aos 
 crimes que integram o concurso, ou à medida da pena que singularmente lhes 
 respeita, uma vez que nenhum desses crimes era abstractamente punível com pena 
 superior a 5 anos de prisão. 
 
  
 
             Resulta com suficiente clareza do n.º 4 (maxime, fundamento n.º 4.6) 
 do acórdão de 25 de Outubro de 2007, que, para chegar a essa decisão de não 
 admissibilidade parcial do recurso – e só o que respeita à não admissão do 
 recurso está em discussão – , o  Supremo Tribunal de Justiça fez aplicação da 
 alínea e) do n.º 1 do artigo 400.º do CPP na versão anterior à da Lei  n.º 
 
 48/2007, de 29 de Agosto,  e que a interpretou, como esclarece o despacho de 25 
 de Janeiro de 2008,  no sentido de que “sem prejuízo da eventual admissibilidade 
 do recurso relativo ao correspondente concurso criminoso e à respectiva pena 
 
 única, não é admissível recurso, restrito às respectivas penas parcelares, de 
 acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações, em processos, ainda que 
 conexos, por crimes a que seja aplicável pena de prisão não superior a cinco 
 anos”.
 
  
 
             Verifica-se que, apesar de formalmente reportado à mesma alínea e) 
 do n.º 1 do artigo 400.º do CPP, o sentido normativo que o recorrente indica no 
 requerimento de interposição é bem diverso daquele que fundou o juízo de 
 inadmissibilidade do recurso quanto aos crimes e penas parcelares. Não constitui 
 elemento da hipótese normativa da alínea e) do n.º 1 do artigo 400.º, na 
 interpretação que fundou a não admissão do recurso, que a decisão da Relação 
 seja confirmativa (ainda que in mellius) da decisão da 1.ª instância, nem que a 
 moldura penal dos crimes individualmente considerados pelos quais o arguido 
 tenha sido considerado não ultrapasse os oito anos de prisão. Esses são 
 elementos que poderiam interessar á norma da alínea f) do n.º 1 do artigo 400.º 
 do CPP. O recurso não foi admitido simplesmente porque o máximo da moldura da 
 pena aplicável a cada um dos crimes em concurso não ultrapassava os cinco anos 
 de prisão, nessa parte como literalmente dispunha a alínea e) do n.º 1 do artigo 
 
 400.º do CPP. As demais considerações produzidas neste capítulo do acórdão 
 recorrido dizem respeito às razões pelas quais se admite o recurso quanto à pena 
 unitária, não às razões pelas quais se rejeitou o recurso quanto às penas de 
 cada um dos crimes em concurso.
 
  
 
             Nem se objecte que o reclamante se limita a usar a formulação que o 
 acórdão que recaiu sobre a arguição de nulidade adoptou ao julgar improcedente a 
 questão de inconstitucionalidade suscitada. Com tal afirmação, o Supremo não 
 está a enunciar o sentido normativo da alínea e) do n.º 1 do artigo 400.º com 
 fundamento na qual não admitiu o recurso. Limita-se a transpor para o juízo de 
 não inconstitucionalidade da norma que aplicou 'as mesmas razões' pelas quais o 
 Tribunal Constitucional não tem julgado inconstitucional a norma da alínea f) do 
 n.º 1 do artigo 400.º do CPP.
 
  
 
             7. Assim sendo, a norma (o sentido normativo) que o recorrente 
 pretende submeter a apreciação do Tribunal Constitucional não corresponde à 
 ratio decidendi da não admissão pelo acórdão recorrido do recurso do acórdão da 
 Relação na parte que respeita aos crimes em concurso.
 
  
 
  Deste modo, devendo confirmar-se o despacho reclamado quanto a este fundamento, 
 fica prejudicada a verificação dos demais pressupostos do recurso de 
 constitucionalidade, designadamente o de saber se mereceria confirmação o juízo 
 do despacho reclamado de que a questão de constitucionalidade não foi colocada 
 de modo processualmente adequado no recurso para o Supremo Tribunal de Justiça.
 
  
 
  
 
             8. Decisão
 
  
 
             Pelo exposto, decide-se indeferir a reclamação e condenar o 
 reclamante nas custas, fixando a taxa de justiça em 20 (vinte) UCs.
 Lisboa, 10 de Março de 2008
 Vítor Gomes
 Ana Maria Guerra Martins
 Gil Galvão