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Proc. nº 511/93
 
 1ª Secção
 Rel.: Cons. Maria Fernanda Palma
 
  
 
  
 
  
 
                         Acordam na 1ª Secção do Tribunal Constitucional:
 
  
 
  
 I
 Relatório
 
  
 
                         1. M... propôs, no Tribunal Cível da  Comarca de Lisboa, 
 uma acção emergente de contrato individual de trabalho contra C.N.N. - Companhia 
 Nacional de Navegação, E.P., em liquidação, pedindo que esta fosse condenada a 
 reconhecer um crédito da autora, no montante de 1.113.784$00, e que tal crédito 
 fosse incluído no mapa a que se refere o artigo 8º, nº 2, do Decreto-Lei nº 
 
 138/85, para ser graduado no lugar que lhe competisse.
 
  
 
                         2. Por sentença de 15 de Maio de 1992, foi julgada 
 procedente a excepção de prescrição dos créditos laborais suscitada pela ré na 
 contestação e, consequentemente, julgada improcedente a acção e absolvida a ré 
 do pedido.
 
  
 
                         3. Dessa sentença interpôs a autora recurso de apelação 
 para o Tribunal da Relação de Lisboa.
 
                         Por acórdão de 25 de Fevereiro de 1993, foi revogada a 
 decisão impugnada, julgando-se parcialmente procedente a acção, com a condenação 
 da ré a reconhecer um crédito da autora, no montante de 179.173$00 
 
 (posteriormente corrigido para 184.993$00, por acórdão proferido ao abrigo do 
 artigo 667º, nº 1, do Código de Processo Civil), e a ordem de inclusão desse 
 crédito no mapa a que se refere o nº 2 do artigo 8º do Decreto-Lei nº 138/85 e 
 subsequente graduação no lugar que lhe competisse.
 
                         Neste acórdão, depois de afastadas as excepções 
 peremptórias de prescrição e de remissão abdicativa suscitadas pela ré, 
 entendeu-se que o contrato de trabalho que vinculava a autora à C.N.N. não 
 deveria considerar-se extinto por caducidade, por se julgar inconstitucional a 
 norma da alínea c) do nº 1 do artigo 4º do Decreto-Lei nº 138/85, por violação 
 dos artigos 18º, nº 3, 53º e 168º, nº 1, alínea b), da Constituição. Invocou-se, 
 nesse sentido, o já decidido nesse domínio pelo Tribunal Constitucional, nos 
 Acórdãos nºs 81/92 e 258/92 (Diário da República, II, de 18 de Agosto de 1992 e 
 de 19 de Novembro de 1992, respectivamente).
 
                         Foi recusada, assim, a aplicação dessa norma e 
 reconduzida a situação dos autos a um despedimento colectivo ilegal, pelo que se 
 concluiu ter a autora direito a uma indemnização pelo despedimento, fixada no 
 montante acima referido.
 
  
 
                         4. Desta decisão foi interposto pela ré o presente 
 recurso para o Tribunal Constitucional, ao abrigo do artigo 70º, nº 1, alínea 
 a), da Lei nº 28/82, de 15 de Novembro, a fim de ser apreciada a questão da 
 constitucionalidade da alínea c) do nº 1 do artigo 4º do Decreto-Lei nº 138/85.
 
                         Neste Tribunal, a recorrente apresentou alegações, 
 formulando as seguintes conclusões:
 
  
 
             1º - A extinção da CNN ocorreu como consequência necessária e 
 directa da ruptura económico-financeira da empresa;
 
  
 
             2º - O Decreto-Lei  nº 138/85, de 3 de Maio, que determinou a 
 extinção da CNN foi publicado no uso da competência do Governo e na execução de 
 imperativos constitucionais, de natureza prioritária, decorrentes do artigo 81º, 
 al. c), da Constituição;
 
  
 
             3º - Da extinção da  CNN resulta inevitavelmente a cessação dos 
 contratos de trabalho em que a empresa era parte;
 
  
 
             4º - A  Lei dos  Despedimentos vigente à data da extinção da CNN - 
 Decreto-Lei nº 372-A/75, de 16 de Julho - ao definir o conceito de despedimento, 
 os fundamentos que o justificam e a competência para a respectiva promoção, 
 rejeita decisivamente qualquer equivalência entre o encerramento da empresa e a 
 extinção da entidade empregadora como postulado de aplicação analógica do regime 
 dos despedimentos colectivos a esta segunda hipótese;
 
  
 
             5º - Resultando de  um  evento  que constitui um facto jurídico 
 stricto sensu exterior à entidade extinta, independente da posição dos seus 
 
 órgãos sociais, a cessação dos contratos de trabalho em que a CNN era parte só 
 pode reconduzir-se à caducidade, por aplicação do artigo 8º, nº 1, do citado 
 Decreto‑Lei nº 372-A/75 e dos princípios gerais de direito nele previstos;
 
  
 
             6º - Uma vez que a caducidade dos contratos de trabalho decorre da 
 aplicação directa da Lei dos Despedimentos, o artigo 4º, nº 1, al. c), do 
 Decreto‑Lei nº 138/85, de 3 de Maio, não comporta qualquer carácter inovatório, 
 apenas concretizando o referido regime geral;
 
  
 
             7º - Assim sendo, aquele preceito do artigo 4º, nº 1, al. c), do 
 Decreto-Lei nº 138/85 não viola qualquer disposição constitucional, pelo que 
 deve conceder-se provimento ao presente recurso, determinando-se a reformulação 
 do douto acórdão recorrido, em conformidade com o juízo de constitucionalidade 
 da norma apreciada.
 
  
 
  
 
                         Por sua vez, a recorrida produziu também alegações, que 
 concluiu deste modo:
 
  
 
             a) A extinção jurídica de empresa, por acto do governo, não 
 determinava, face à lei laboral geral vigente, a cessação dos contratos de 
 trabalho, designadamente por caducidade (e o encerramento definitivo de empresa 
 havia sido absorvido pela disciplina jurídica do despedimento colectivo);
 
  
 
             b) Ao determinar a caducidade dos contratos de trabalho, mormente 
 sem indemnização, a al. c) do nº 1 do art. 4º do Dec.-Lei 138/85 violou o 
 direito à segurança no emprego - já que este não é compatível com a privação do 
 seu mero sucedâneo, que é o direito à indemnização - pelo que violou os arts. 
 
 53º e 18º, nº 3, da C.R.P.;
 
  
 
             c) Ao reservar esse destino, nessas condições, para os contratos de 
 trabalho, enquanto os contratos de outra natureza foram mantidos ou rescindidos 
 com indemnização; e, ainda, ao determinar a imediata caducidade de alguns 
 contratos de trabalho e a caducidade diferida de outros da mesma natureza, a 
 mesma norma ofendeu o princípio da igualdade, violando o art. 13º da C.R.P.;
 
  
 
             d) Tendo inovado, como inovou, em matéria de cessação de contrato de 
 trabalho, sem precedência de autorização legislativa, a mesma norma violou o 
 art. 168º, nº 1, al. b), da C.R.P.
 
  
 
  
 
  
 
  
 
                         5. Corridos os vistos legais, cumpre decidir.
 
  
 
  
 
  
 II
 Fundamentação
 
  
 
                         6. O presente recurso tem por objecto a questão da 
 constitucionalidade da norma constante da alínea c) do nº 1 do artigo 4º do 
 Decreto-Lei nº 138/85, de 3 de Maio.
 
  
 
                         7. Através deste diploma foi determinada a extinção da 
 empresa pública CNN - Companhia Nacional de Navegação, E.P., com fundamento na 
 deterioração progressiva da sua situação económico-financeira, entrando, a 
 partir de então, em liquidação, para cujo efeito manteria a personalidade 
 jurídica, até à aprovação final das contas a apresentar pela comissão 
 liquidatária (artigo 1º).
 
  
 
  
 
  
 
                         De acordo com a alínea c) do nº 1 do artigo 4º do 
 diploma, a extinção da CNN implicava:
 
  
 
             'c) A extinção por caducidade imediata de todos os contratos de 
 trabalho em que seja parte a CNN, com excepção dos outorgados com pessoal de mar 
 embarcado, os quais se extinguirão imediatamente após o respectivo desembarque 
 no porto nacional de destino, sem prejuízo do direito aos salários e outras 
 remunerações em dívida à data da extinção do contrato de que se trate.'
 
  
 
  
 
  
 
                         Resulta deste preceito que, com a entrada em vigor do 
 Decreto-Lei nº 138/85, se extinguiram de imediato, por caducidade, os contratos 
 de trabalho dos trabalhadores daquela empresa pública, sem que estes tivessem 
 direito a qualquer indemnização.
 
                         Com efeito, o estatuto do pessoal das empresas públicas 
 regia-se pelo Decreto-Lei nº 260/76, de 8 de Abril, que, através do seu artigo 
 
 30º, remetia para o regime do contrato individual de trabalho, pelo que era 
 aplicável à cessação dos contratos de trabalho o regime geral então vigente, 
 constante do Decreto-Lei nº 372-A/75, de 16 de Julho (Lei dos Despedimentos), 
 com as alterações sucessivamente introduzidas pelos Decretos-Leis nºs 84/76, de 
 
 28 de Janeiro, e 841-C/76, de 7 de Dezembro, e pela Lei nº 48/77, de 11 de 
 Julho. E, segundo esse regime geral, a caducidade do contrato não conferia 
 direito a qualquer indemnização.
 
  
 
  
 
  
 
                         Porém, também esse regime geral não contemplava, entre 
 as hipóteses de cessação do contrato de trabalho por caducidade, a situação de 
 extinção de uma empresa, conforme resultava do teor do nº 1 do artigo 8º da Lei 
 dos Despedimentos, que dispunha do seguinte modo:
 
  
 
     'O contrato de trabalho caduca nos casos previstos nos termos gerais de 
 direito, nomeadamente:
 
  
 
             a) Expirando o prazo por que foi estabelecido;
 
  
 
             b) Verificando-se impossibilidade superveniente, absoluta e 
 definitiva, de o trabalhador prestar o seu trabalho ou de a empresa o receber;
 
  
 
             c) Com a reforma do trabalhador.'
 
  
 
  
 
  
 
                         8. Apenas poderá haver dúvidas quanto à eventual 
 integração da situação de extinção de uma empresa na hipótese de 
 
 'impossibilidade superveniente, absoluta e definitiva de o trabalhador prestar o 
 seu trabalho ou de a empresa o receber'. 
 
                         Contudo, essa impossibilidade tem de revestir natureza 
 factual, e não resultar de disposição legal. Além disso, nem sequer ocorreu, no 
 caso concreto, uma impossibilidade (ainda que de origem legal) absoluta e 
 definitiva de prestar e receber trabalho, na medida em que não cessaram de 
 imediato todos os contratos da empresa (cf. artigo 4º, nº 2, do Decreto-Lei nº 
 
 138/85) e que outros contratos de trabalho (neste caso, a prazo) continuaram a 
 poder ser celebrados pela comissão liquidatária da empresa [cf. artigo 2º, nº 4, 
 alínea c), do Decreto-Lei nº 138/85].
 
                         Aliás, a evolução legislativa do regime de cessação do 
 contrato de trabalho também aponta para a não integração do encerramento 
 definitivo da empresa na alínea b) do nº 1 do artigo 8º da Lei dos Despedimentos 
 então em vigor: na versão originária desta Lei determinava-se, no nº 2 do artigo 
 
 29º, que 'o encerramento definitivo da empresa faz caducar os contratos de 
 trabalho', tendo essa norma sido revogada pelo Decreto-Lei nº 84/76, o qual 
 introduziu a figura do despedimento colectivo, passando a constituir fundamento 
 deste o 'encerramento definitivo da empresa' (cf. artigo 13º, nº 2, da Lei dos 
 Despedimentos). Com esta alteração, tornou‑se evidente que o encerramento 
 definitivo de uma empresa deixou de constituir causa de caducidade de contratos 
 de trabalho e passou a ser pressuposto da instauração de um processo de 
 despedimento colectivo.
 
                         Ao contrário da caducidade, a cessação do contrato de 
 trabalho por despedimento colectivo não opera automaticamente com a verificação 
 dos seus pressupostos materiais. Ela obedece a trâmites processuais próprios, 
 que contemplam a intervenção da comissão de trabalhadores, e confere direito a 
 indemnização.
 
                         Assim, quando o Decreto-Lei nº 138/85 estabelece que a 
 extinção da CNN implica a extinção por caducidade dos contratos de trabalho em 
 que esta seja parte está, manifestamente, a alterar o regime geral sobre 
 cessação do contrato individual de trabalho. Ou seja, o Governo, ao editar a 
 norma da alínea c) do nº 1 do artigo 4º do Decreto‑Lei nº 138/85, legislou, em 
 termos inovatórios, sobre uma causa de extinção do contrato individual de 
 trabalho, isto é, sobre matéria de 'direitos, liberdades e garantias' dos 
 trabalhadores.
 
                         Ora, o artigo 168º, nº 1, alínea b), da Constituição 
 determina ser da exclusiva competência da Assembleia da República, salvo 
 autorização ao Governo, legislar sobre matéria de 'direitos, liberdades e 
 garantias'. Contudo, o Governo editou a norma da alínea c) do nº 1 do artigo 4º 
 do Decreto-Lei nº 138/85 sem estar munido da necessária autorização legislativa, 
 conforme se evidencia no enunciado do diploma, pelo que cabe concluir que essa 
 norma viola a alínea b) do nº 1 do artigo 168º da Constituição.
 
  
 
                         9. Por outro lado, verifica-se ainda que a alínea c) do 
 nº 1 do artigo 4º do Decreto-Lei nº 138/85 constitui norma restritiva de 
 
 'direitos, liberdades e garantias' (concretamente, do direito à segurança no 
 emprego, consagrado no artigo 53º da Constituição), pelo que deveria revestir 
 carácter geral e abstracto, por força do disposto no artigo 18º, nº 3, da 
 Constituição.
 
  
 
  
 
  
 
                         No entanto, a norma da alínea c) do nº 1 do artigo 4º do 
 Decreto-Lei nº 138/85 tem um evidente carácter individual e concreto, na medida 
 em que estatui apenas para uma empresa específica, pelo que também foi violado o 
 artigo 18º, nº 3, conjugado com o artigo 53º, da Constituição.
 
  
 
                         10. Finalmente, coloca-se ainda a questão da eventual 
 violação do artigo 53º da Constituição, que consagra o direito à segurança no 
 emprego, enquanto declara que 'é garantida aos trabalhadores a segurança no 
 emprego'.
 
                         Sobre essa matéria foi suscitada a intervenção do 
 Tribunal Constitucional ainda em sede de fiscalização preventiva referente à 
 constitucionalidade das normas constantes do artigo 1º do projecto de 
 decreto-lei que veio a originar o Decreto-Lei nº 138/85 (tendo-se apreciado, 
 simultaneamente, o projecto do Decreto-Lei nº 137/85, de 3 de Maio, de 
 articulado idêntico, no qual se extinguiu a CTM - Companhia Portuguesa de 
 Transportes Marítimos, E.P.). Concluiu-se então que tal matéria estava fora do 
 
 âmbito do pedido, com a seguinte fundamentação:
 
  
 
 '(...) Suscitou-se a questão de saber se, no caso, existe violação do artigo 53º 
 da Constituição, ou seja, do direito à segurança no emprego. Violação que se 
 traduziria no facto de a alínea c) do nº 1 do artigo 4º de cada um dos diplomas 
 aqui em apreciação prever a extinção, por caducidade imediata, de todos os 
 contratos de trabalho.
 
  
 
  
 
  
 
             a) O simples enunciado da questão mostra que ela se coloca em face 
 do que se preceitua na mencionada alínea c) do nº 1 do artigo 4º, que o mesmo é 
 dizer fora do âmbito do pedido, pois que, como já se viu, este é restrito à 
 norma que consta de cada um dos artigos 1ºs.
 
  
 
             b) Objectar-se-á, porém, que existe um nexo indissolúvel entre a 
 extinção da empresa, decretada no artigo 1º, e a extinção dos contratos de 
 trabalho, regulada na referida alínea c) do artigo 4º. E, assim - 
 prosseguir-se-á -, o sentido da norma constante do artigo 1º, ao cabo e ao 
 resto, só se compreenderá inteiramente quando integrada (completada) por 
 aqueloutra norma que consta da alínea c).
 
  
 
             c) A objecção, contudo, não procede.
 
             De facto, a questão de inconstitucionalidade que a alínea c) do nº 1 
 do artigo 4º, eventualmente, poderia suscitar respeita, não à extinção dos 
 contratos de trabalho, que vai implicada na extinção da empresa, sim e tão-só à 
 forma e às condições em que se processa a extinção de tais contratos.
 
             Ora, nesta perspectiva já se vê que não existe qualquer nexo entre a 
 norma do artigo 1º e a da alínea c) do nº 1 do artigo 4º: esta última poderia, 
 em hipótese, ser inconstitucional, sem que daí decorresse a 
 inconstitucionalidade daquela. E mais: o artigo 1º não reclama a edição de 
 qualquer norma do tipo da do artigo 4º, nº 1, alínea c). 
 
  
 
             d) De tudo decorre, pois, que, como inicialmente começou por se 
 assinalar, ambos os preceitos - o artigo 1º e o artigo 4º, nº 1, alínea c) - se 
 apresentam  com  perfeita  autonomia.'  (Acórdão nº 26/85, Diário da República, 
 II, de 26 de Abril de 1985).
 
  
 
  
 
  
 
                         11. Porém, logo então, em declarações de voto anexas ao 
 referido acórdão, que sustentaram o alargamento do âmbito do pedido, se entendeu 
 ser inconstitucional a alínea c) do nº 1 do artigo 4º do diploma, por violação 
 do artigo 53º da Constituição, nos seguintes termos:
 
  
 
             '(...) têm-se por inaceitáveis, no plano constitucional, as normas 
 que determinam a extinção por caducidade imediata de todos os contratos de 
 trabalho em que sejam partes a CTM e a CNN. Na verdade, a mera ressalva dos 
 salários e outras remunerações em dívida à data da extinção dos contratos 
 
 [artigo 4º, nº 1, alínea c), de ambos os diplomas] parece não contemplar o 
 direito a indemnização estatuída na lei geral (Decreto-Lei nº 372-A/75, de 16 de 
 Julho).
 
  
 
             Assim sendo, os actos de extinção das empresas, não implicando por 
 si só a caducidade dos contratos de trabalho, estão sujeitos ao cumprimento das 
 regras do despedimento colectivo; além do mais, porque os diplomas em 
 apreciação, apesar de revestirem a forma de decretos-leis, não dimanaram da 
 Assembleia da República, nem contaram com credencial parlamentar, e não se 
 revestem de carácter geral e abstracto.
 
  
 
             De tudo isso decorre que a alínea c) do nº 1 do artigo 4º de ambos 
 os diplomas, em conexão obrigatória com o artigo 1º dos mesmos, padece do vício 
 de inconstitucionalidade, por violação do artigo 53º da Constituição que garante 
 o direito à segurança do emprego.' (declaração de voto do Conselheiro Monteiro 
 Diniz).
 
  
 
  
 
  
 
             E:
 
  
 
  
 
 '(...) a extinção dos contratos de trabalho por caducidade automática, geral e 
 sem indemnização é absolutamente incompatível com o direito à segurança no 
 emprego garantido no artigo 53º da Constituição. Mas, mesmo que uma tal solução 
 fosse admissível em tese geral, é inquestionável que ela só poderia ser 
 estabelecida por uma prévia alteração da 'Lei dos Despedimentos', de acordo com 
 as regras de forma, competência e processo estabelecidos na Constituição. Em 
 matéria de 'direitos, liberdades e garantias' - repita-se - uma lei concreta 
 
 (e/ou individual) não pode dispor contra uma lei geral. O Estado não poderia 
 violar a Lei dos Despedimentos mediante acto administrativo; também não pode 
 derrogá-la mediante diploma legislativo para um caso concreto.
 
  
 
  
 
  
 
  
 
  
 
  
 
  
 
             Em conclusão, é de entender que a extinção das empresas com extinção 
 dos contratos de trabalho por caducidade não é conforme à garantia 
 constitucional do direito à segurança no emprego.' (declaração de voto do 
 Conselheiro Vital Moreira).
 
  
 
  
 
  
 
                         Com efeito, a garantia constitucional da estabilidade do 
 contrato de trabalho é notoriamente afectada pela extinção de contratos de 
 trabalho de forma imediata, automática e sem qualquer indemnização aos 
 trabalhadores, como ocorre no caso dos autos.
 
                         Aliás, é o próprio princípio de justiça implicado na 
 ideia de Estado de Direito que impõe que se indemnizem os trabalhadores quando 
 os seus contratos de trabalho se extingam por causa que não lhes é imputável, 
 como sucede no caso de extinção de uma empresa por decisão do legislador.
 
                         Cabe, assim, concluir que a norma da alínea c) do nº 1 
 do artigo 4º do Decreto-Lei nº 138/85, enquanto não prevê qualquer indemnização 
 aos trabalhadores que perderam os seus postos de trabalho devido à extinção da 
 CNN, constitui violação do direito à segurança no emprego, consagrado no artigo 
 
 53º da Constituição.
 
  
 
                         12. Refira-se, por último, que, em sede de fiscalização 
 concreta, o Tribunal Constitucional tem formulado jurisprudência uniforme no 
 sentido, acima propugnado, da inconstitucionalidade da alínea c) do nº 1 do 
 artigo 4º do Decreto-Lei nº 138/85, por violação ao disposto nos artigos 18º, nº 
 
 3, 53º e 168º, nº 1, alínea b), da Constituição e com fundamentação que aqui se 
 acompanha [cf. os Acórdãos nºs 81/92 (Diário da República, II, de 18 de Agosto 
 de 1992), 380/94, 408/94 e 522/94 (inéditos)]. E o mesmo se diga quanto à norma 
 idêntica da alínea c) do nº 1 do artigo 4º do Decreto-Lei nº 137/85, relativo à 
 extinção da CTM [cf. os Acórdãos nºs 258/92 (Diário da República, II, de 19 de 
 Novembro de 1992), 353/94 (Diário da República, II, de 6 de Setembro de 1994), 
 
 354/94 (inédito), 355/94 (Diário da República, II, de 7 de Setembro de 1994), 
 
 356/94 (inédito), 357/94 (Diário da República, II, de 7 de Setembro de 1994), e 
 
 358/94 (inédito)]. 
 
  
 
  
 
  
 III
 Decisão
 
  
 
                         13. Pelo exposto, decide-se:
 
  
 
                         a) Julgar inconstitucional a norma constante da alínea 
 c) do nº 1 do artigo 4º do Decreto-Lei nº 138/85, enquanto determina que a 
 extinção da CNN - Companhia Nacional de Navegação, E.P., implica a extinção por 
 caducidade dos contratos de trabalho em que a empresa seja parte, por violação 
 ao disposto nos artigos 18º, nº 3, 53º e 168º, nº 1, alínea b), da Constituição; 
 e,
 
  
 
                         b) Em consequência, negar provimento ao recurso, 
 confirmando a decisão recorrida, na parte impugnada.
 
                         Lisboa, 20 de Abril de 1995
 
                         Ass) Maria Fernanda Palma
 Maria da Assunção Esteves
 Alberto Tavares da Costa
 Armindo Ribeiro Mendes              
 Antero Alves Monteiro Dinis
 Vitor Nunes de Almeida (vencido, conforme declaração aposta ao acórdão nº 81/92)
 
                                    Luis Nunes de Almeida